sexta-feira, 5 de outubro de 2007

O Homem e a Alma

E o Deus dos deuses separou de si mesmo

uma alma e a dotou de beleza.
E deu-lhe a suavidade da brisa matinal

e o perfume das flores do campo

e a doçura do luar.
E entregou-lhe a taça da alegria, dizendo-lhe:

"Só poderás beber desta taça

se esqueceres o passado

e não te preocupares com o futuro."

E entregou-lhe a taça da tristeza, dizendo:

"Bebe dela, e compreenderás

a essência da alegria da vida."
E soprou nela um amor que a abandonaria

ao primeiro suspiro de saciedade,

e uma meiguice que a abandonaria

à primeira manifestação de orgulho.
E fez descer sobre ela, do céu,

um instinto que lhe revelaria

os caminhos da verdade.
E depositou nas suas profundezas

uma visão que vê,

o que não se vê.
E criou nela sentimentos

que deslizam com as sombras

e caminham com os fantasmas.
E vestiu-a de um vestido de paixão

que os anjos teceram com as

ondulações do arco-íris.
E colocou nela as trevas da dúvida,

que são as sombras da luz.
E tomou fogo da forja do ódio,

e ventos do deserto da ignorância,

e areia do mar do egoísmo,

e terra pisada pelos pés dos séculos

e amassou todos esses elementos

e fez o homem.
E deu-lhe uma força cega que se inflama

nas horas de loucura

e desvanece diante das tentações.
Depois, depositou nele a vida,

que é o reflexo da morte.
E sorriu o Deus dos deuses,

e chorou,

e sentiu um amor

incomensurável e infinito

e uniu o homem e a alma