O Homem e a Alma
E o Deus dos deuses separou de si mesmo
uma alma e a dotou de beleza.
E deu-lhe a suavidade da brisa matinal
e o perfume das flores do campo
e a doçura do luar.
E entregou-lhe a taça da alegria, dizendo-lhe:
"Só poderás beber desta taça
se esqueceres o passado
e não te preocupares com o futuro."
E entregou-lhe a taça da tristeza, dizendo:
"Bebe dela, e compreenderás
a essência da alegria da vida."
E soprou nela um amor que a abandonaria
ao primeiro suspiro de saciedade,
e uma meiguice que a abandonaria
à primeira manifestação de orgulho.
E fez descer sobre ela, do céu,
um instinto que lhe revelaria
os caminhos da verdade.
E depositou nas suas profundezas
uma visão que vê,
o que não se vê.
E criou nela sentimentos
que deslizam com as sombras
e caminham com os fantasmas.
E vestiu-a de um vestido de paixão
que os anjos teceram com as
ondulações do arco-íris.
E colocou nela as trevas da dúvida,
que são as sombras da luz.
E tomou fogo da forja do ódio,
e ventos do deserto da ignorância,
e areia do mar do egoísmo,
e terra pisada pelos pés dos séculos
e amassou todos esses elementos
e fez o homem.
E deu-lhe uma força cega que se inflama
nas horas de loucura
e desvanece diante das tentações.
Depois, depositou nele a vida,
que é o reflexo da morte.
E sorriu o Deus dos deuses,
e chorou,
e sentiu um amor
incomensurável e infinito
e uniu o homem e a alma
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