quinta-feira, 18 de outubro de 2007

EU NÃO CONSIGO AMANHECER

Trago em meus guardados

o gosto amargo das noites mal dormidas,

inquietude que eu tenho, faz tempo,

ansiedade que arranha por dentro

e eu nem sei explicar o porquê!

Trago a fome compulsiva dos loucos,

e não há nada que possa matar minha sede,

teimosia de um tolo que vive

a percorrer caminhos estranhos,

trilhas estreitas, nubladas,

e ainda que se faça a luz,

por cegueira, eu não consigo Te ver.

Trago um coração angustiado,

ainda ontem, sufocado,

pela fumaça de nem sei quantos cigarros,

vez por outra, quando respiro engasgo,

coisas que eu tenho que reaprender.

Trago palavras molhadas, confessas,

às vezes choradas, confusas, ardidas,

às vezes suadas, salgadas, cansadas,

em outras, ejaculadas, de qualquer jeito, na pressa

de deixar marcas, registros, um grito!

E quase sempre com cheiro de sangue,

feridas expostas, destroços, poemas,

por mais que o sol nasça todos os dias,

aqui dentro eu não consigo amanhecer.