terça-feira, 16 de outubro de 2007

A educação

A educação acontece enquanto as pessoas vão mudando,
para que não deixem de mudar.
Se as pessoas estivessem prontas não haveria lugar para a educação.
O educador ajuda os outros a irem mudando no tempo.
Eu mesmo já mudei nem sei quantas vezes.
As pessoas da minha geração são as que viveram mais tempo,
não pelo número de anos contados pelos relógios e calendários, mas pela infinidade de mundos
por que passamos num tempo tão curto.
Nos meus 74 anos, meu corpo e minha cabeça viajaram do mundo da pedra lascada e da madeira - monjolo, pi­lão, lamparina -
até o mundo dos computadores e da internet.
Os animais e plantas também mudam,
mas tão devagar que não percebemos.
Estão prontos.
Abelhas, vespas, cobras, formigas, pássaros, aranhas são o que são
e fazem o que fazem há milhões de anos.
Porque estão prontos,
não precisam pensar e não podem ser educados.
Sua programação, o tal de DNA, já nasce pronta.
Seus corpos já nascem sabendo o que precisam saber para viver.
Conosco aconteceu diferente.
Parece que, ao nos criar, o Criador cometeu um erro
(ou nos pregou uma peça!): deu-nos um DNA incompleto.
E porque nosso DNA é incompleto somos condenados a pensar.
Pensar para quê?
Para inventar a vida!
É por isso, porque nosso DNA é incompleto,
que inventamos poesia, culinária, música, ciência, arquitetura, jardins, religiões, esses mundos a que se dá o nome de cultura.
Pra isso existem os educadores:
para cumprir o dito do Riobaldo...
"O senhor mire e veja: o mais importante e bonito do mun­do é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando..."
Uma escola é um caldeirão de bruxas que o educador vai mexendo para "desigualizar" as pessoas e fazer outros mundos nascerem...