terça-feira, 30 de outubro de 2007

Descompassos

Vivo manhãs de sol que não mais refletem o antigo brilho, desfolho flores que se despiram das cores de aquarela, e sombras insistentes me envolvem, desde que, numa fração de minuto, ele se foi, sem proferir palavras, sem acenar adeus.
Pôr-do-sol sem poesia, ondas do mar revoltas, como meu coração. Pássaros que já não mais me despertam com seus cantares. Vazio... Nada espero, mas não me aquieto, imersa na tortura de saber-me esquecida.
Esperança sempre me pareceu coisa sem sentido.

Restam-me, então, lembranças de carinhos, de mãos que sempre traziam calmarias. Nunca mais!
Dói a saudade, mas nada peço aos céus, senão que cerrem, de uma vez por todas, as cortinas de uma vida, agora sem sentido, monocromática, sem amanhãs. O que foi feito da alegria que teci amorosamente para os dias que nunca chegariam a existir para nós?
O orvalho se mistura às lágrimas quando, subitamente, vislumbro estrelas que se misturam ao convite inebriante do bailado das ondas do mar. Simulo vôos. Chegarei a algum lugar.