sábado, 13 de outubro de 2007

CANTO À MONTANHA

Eu vi o mar, sim.
E sei que ele é belo.
Mas ... abro a janela.
Que vejo? A montanha.
O mar é dinâmico, masculino, mutável,
enérgico, maldoso, inconstante.
O mar não é meu.

Mas a montanha, sim.
Está aqui perto, ali, lá, além,
se abro a janela.
Ah! Montanha bela!
A montanha é estática - aparentemente - ,
mas tem dentro de si
que forças - nem sei!
É mulher, mãe, guardiã, fidelidade,
perenidade, serenidade, contemplação.
É ter pés na terra,
fincados no chão.
Mas é também olhar bem distante,
de longo horizonte,
buscando as estrelas pela amplidão.

Eu vi o mar.
E sua beleza
e sua arrogância
me causaram respeito,
distância e admiração.
Mas minhas raízes
são a água que nasce,
puríssima e clara,
constante, cantante, sonora,
descendo a montanha.

Por vezes a sinto
me cercando toda,
quiçá prisão.

E abro a janela.
Silenciosa, imóvel, tranqüila,
de um verde mistério
me contemplando - lá está ela.

Não sei a que ponto
estou prisioneira.
Mas sei que algum dia -
será que ela perde ou que
ela ganha? -
estarei bem dentro dela,
completamente identificada
em flores surgindo,
em verde brotando,
na montanha
que eu vejo defronte
do meu horizonte
se abro a janela.


A montanha é como uma mãe: sempre ali, à nossa espera, como se por nós aguardasse pelo tempo que for necessário. A sua imagem nos traz segurança; entre elas, aconchego de braços nos embalando. Apesar da aparência de austeridade, de rudeza, há a idéia de tempo eterno, de que ela pra sempre será. Somente quem foi criado entre tantas pedras pode sentir que a frieza que elas talvez demonstrem para os outros é para nós uma imensa sensação de lar, de segurança, de um lugar protegido onde o mal custa a nos encontrar. Quem nasceu aos seus pés dela não se esquecerá.