quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Hoje...

Hoje vestirei a mulher. Deixarei guardado todos os trajes deste meu teatro,
onde enceno, todos os dias a vida real.
Deixarei nos cabides de minha vida,
os vários personagens que eu tomo,
e que me tomam.
A psicóloga,
que muito ouve
mas não tem tempo para ser ouvida.
A médica que conhece os sintomas
dos males que afetam os seus
mas não pode exteriorizar
o que lhe adoece a alma.
A Enfermeira
sem horário,
que acompanha paciente,
com doses homeopáticas de amor.
A professora
sem lousa,
que ousa responder todas as questões,
mas não consegue resolver
seus próprios problemas.
A lavadeira, passadeira,
cozinheira, arrumadeira,
mudando o vestuário,
no mesmo ato,
sem sair do palco.
A mãe de dores e amores,
imagem sagrada dos filhos.
A esposa composta,
indisposta,
cheia de pudores.
Hoje, sem texto,
sem pretexto,
vestirei a mulher,
Num espetáculo a parte.